Informativo CEA
Amar os próprios inimigos, fazer o bem, não odiar: um eco do sétimo domingo após a Epifania para a Quaresma.
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Jesus nos adverte para não reproduzirmos a lógica mundana das relações baseadas na violência. Vingança, revanchismo são inconciliáveis a ética do Reino, estão em desarmonia com o evangelho. Não há lugar para condutas autoritárias, punitivas, elitistas, classistas, excludentes. Nossas relações cotidianas estão permeadas por essas atitudes, mecanicamente as reproduzimos, estão banalizadas. É preciso resistir a essas estruturas perversas. Cristãos e cristãs que as praticam dão mal testemunho, vivem um anti Evangelho, uma apostasia, que não significa afastamento de instituições ("estar longe de" na etimologia grega). Agindo assim, transformam a imagem cristã em fundamentalista, intolerante, irrefletida e com um nítido projeto de poder para anular a diversidade humana. “Por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre todos os povos!” (Rm 2.24).
Quando afirma ‘sejam misericordiosos’(v.36), nos convoca a atitudes que desmontem, desarmem quem nela crêem como a lógica das nossas relações intersubjetivas. Cabe aprender de um Deus que é misericordioso, e que as relações e experiências cotidianas sejam permeadas dessa misericórdia. Estar em uma constante atitude reativa, de violência verbal, mostrada através de insultos, desqualificação pessoal, xingamentos, palavras danosas que têm a intenção de ridicularizar, humilhar, manipular e/ou ameaçar...
Em Efésios 4:30-32 vemos “Não entristeçais o Espírito Santo de Deus, com o qual fostes selados para o dia da redenção. Toda amargura, cólera, ira, gritaria e blasfêmia sejam eliminadas do meio de vós, bem como toda a maldade! Pelo contrário, sede bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando uns aos outros, da mesma maneira como Deus vos perdoou em Cristo”. Aconselha-nos o Salmo 37.8 “Evite a ira e rejeite a fúria; não se irrite: isso só leva ao mal. (NVI).
Essa nova forma de se relacionar deverá ser baseada na convicção das fragilidades e limitações de cada um, o que dará lugar à correção fraterna e respeitosa e uma vida em comunidade guiada pela justiça de Deus.
Jesus designa o perfil de quem está disposto a escutar o Evangelho: amar os próprios inimigos, fazer o bem, não odiar, dizer bem; orar por aqueles que nos maltratam; dar a quem nos pede, sem esperar retribuição; não julgar. A regra de ouro que resume todo o discurso é: “Como quereis que os outros vos façam, fazei vós também a eles” (v.31).
Se alguém procura instintivamente o próprio bem pense que também as outras pessoas o procuram. Se duvida como tratar o próximo, consulte seus próprios desejos. Não somente tratar como tratam, mas como desejaria que o tratassem. Colocar-se no lugar do outro, intuir seus desejos, sentindo-os. Ben Sirac, no livro deuterocanônico de Eclesiástico, capítulo 31,16 aconselha: “Pensa que teu vizinho é como tu”.
O Cristão não deve erigir-se em juiz do próximo, não deve condenar sem razão, ser indulgente. Isso não suspende o juízo de valores que é parte integrante do sentido moral.
Todas as pessoas desejam ser amadas, compreendidas e servidas, por isso, todos devemos amar compreender e servir. Devemos ser diferentes das pessoas que vivem a reciprocidade: devemos viver a gratuidade, ser diferentes dos que desejam a vingança: devemos ser misericordiosos. Os critérios do nosso agir em relação aos outros não pode ser o agir dos outros, mas sim o próprio Deus, que não nos trata segundo nossas faltas, mas ama a todas as pessoas, indistintamente. Se vivermos segundo esse critério, seremos chamados filhos e filhas do Altíssimo.
Iniciemos nossas orações pelos que nos ofenderam ou agrediram, seja com palavras ou com atos. Supliquemos a graça de amar como Jesus amou. Intercedamos por todos os que nos prejudicaram intencionalmente ou não. Peçamos a misericórdia de Deus por nós e por eles. Peçamos ao Espírito Santo, que é capaz de transformar corações, tornando-os sensíveis à Vontade de Deus. Relembremos as vezes que amamos os difíceis, Sintamos alegria de ter imitado Jesus. Louvemos e agradeçamos, pois foi a Graça e não mérito nosso.
“Não vos deixe vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm. 12,21).
Gustavo Correia
Missão da Liberdade, Jaboatão dos Guararapes/PE – Diocese Anglicana do Recife.
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