Pastorais - Diocese Anglicana de Pelotas

Carta Pastoral ao XV Concílio Diocesano

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FACEBOOK CEA 26042021

Tempo Pascal, a vida resiste

O tempo pascal é suporte para renovar a fé e a esperança. É força para nos impulsionar adiante na busca pela utopia do reino de Deus. A apóstolo já ensinava, exclamava, “se Cristo não ressuscitou é vão a nossa fé”.

As discípulas, os discípulos e a igreja primitiva encontraram, na experiência com Jesus ressuscitado, extraordinário poder para continuarem adiante espalhando a Boa Notícia.

Essa Boa Notícia – Evangelho – era de que novas relações seriam possíveis entre todos os povos. Essa nova relação se expressaria em acolhida, respeito, empatia, solidariedade e fraternidade. Que Deus ama a todas as pessoas indistintamente. Que a vida é valiosa, é dádiva de Deus e assim deve ser cuidada.

As discípulas foram ao túmulo de Jesus. Romperam regras e preconceitos de gênero, superaram o medo pois todos que fossem considerados do grupo de Jesus, poderiam ter o mesmo fim. E muito mais, sendo mulheres, seu testemunho não seria válido, contudo foram testemunhas e anunciadoras da ressurreição de Jesus. Levaram a mensagem: “Ele não está aqui, vão encontra-lo na Galileia”.

A extraordinária força originada na ressurreição é narrada em Atos dos Apóstolos e em outros textos do Segundo Testamento. Lemos sobre a experiência que a ressurreição de Jesus produziu naquele povo pobre e disperso. Eles enfrentaram um contexto adverso, perverso e injusto, marcado por violência, morte, pobreza e exclusão, mas isso não foi determinante. Foram adiante contra tudo isso, sendo instrumentos e testemunhas de que, em Jesus Cristo, a utopia do Reino de Deus é possível.

A semelhança dos primeiros cristãos, vivemos num contexto muito similar. A vida é desprezada, a morte naturalizada, a violência incentivada. O sistema social, econômico, político e religioso, com exceções, é perverso, concentrador de riquezas, limitador de direitos. Direitos básicos, prescritos e defendidos em nossa Lei Magna, como trabalho, alimento, saúde, educação, habitação, lazer, são negados ou subtraídos. Como se tais direitos fossem uma benesse do estado, na verdade, são uma obrigação do estado para com seu povo. Direitos básicos defendidos pela justiça e comunhão que a mesa eucarística - a mesa da solidariedade, da fraternidade e da partilha – provoca e compromete.

A ressurreição nos recorda que a vida venceu. Que a vida vencerá a morte sempre. Nos recorda que da ressurreição de Jesus vem uma força extraordinária que nos impulsiona adiante. Nos recorda que Jesus vai adiante de nós. A ele devemos seguir. Ele é a nossa força. Cada um e cada uma de nós podemos ser e somos instrumentos dessa força que pode fazer ressurgir vida onde há morte, paz onde há violência, diálogo e pontes, onde há muros, pessoas alimentando-se e vivendo dignamente onde há fome e escassez.

Somos gratos a Deus porque nossa pequenina diocese, nestas duas décadas de existência, tem buscado viver e espalhar a experiência que vem da força extraordinária do Jesus Ressuscitado.

Somos uma presença marcante onde nossas comunidades estão. Somos uma igreja inclusiva, solidária e profética. Nossas lideranças estão atentas ao cuidado pastoral do nosso povo e a realidade vivida pelas pessoas e famílias que se aproximam de nossas comunidades.

Há um esforço determinado, persistente para “encontrar Jesus na Galileia”- lugar de vulnerabilidade, violência, injustiça, fome, exclusão -, pois é para onde Jesus vai adiante de nós. Nesse caminho não estamos sozinhos, cada vez mais nos irmanamos com pessoas, movimentos sociais, ong’s, diferentes coletivos de boa vontade em vista do bem, da paz e da justiça.

Estamos totalmente inseridos no diálogo e testemunho ecumênico e inter-religioso, respeitando as pessoas de diferentes denominações, de diferentes credos ou mesmo que não tenham qualquer crença. Buscando nessa experiência nosso próprio crescimento e o fortalecimento da missão e testemunho assumidos como pessoas e comunidades.
Com o Conselho Diocesano, escolhemos um texto de Gálatas 3.28 “Não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Jesus Cristo” para ser nossa inspiração neste tempo conciliar.

Texto que desejamos fortaleça ainda mais nossa vida e testemunho como igreja diocesana e pessoas cristãs e que nos anime ainda mais no caminho de seguimento a Jesus.

Não somos perfeitos, reconhecemos isso com humildade. Na caminhada, alguns se afastaram outros cismaram, não conseguiram ver em nossos espaços e comunidades um lugar de acolhida e diálogo. O que lamentamos. A humildade poderá nos ajudar a identificar os eventuais erros cometidos para não reedita-los, na busca de melhorar nosso testemunho do Jesus Ressuscitado. Outros tantos se somaram e abraçaram esta igreja como sua, o que nos alegra e anima.

Temos limitações pessoais, estruturais, administrativas, financeiras coisas a superar com os dons de cada pessoa membro da igreja e com organização e planejamento. A execução do Planejamento Estratégico deverá ser um instrumento importante nessa busca. Expressemos a Deus, nosso Pai Materno, a nossa gratidão, que nossa oração seja uma petição a Deus para que desejemos e sejamos “um em Jesus Cristo”.

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém

+Naudal
Bispo Diocesano

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